quarta-feira, 21 de maio de 2014

Somos todos macacos? (sobre biologia e racismo)

Por Fabio Dias Magalhães






 Semanas atrás uma polêmica campanha supostamente anti-racista intitulada "Somos todos macacos" foi iniciada após o jogador Daniel Alves, de forma provocativa, comer uma banana que foi lhe jogada em campo.  Alvo de muitas críticas, a campanha utiliza uma antiga ofensa racista: o termo macaco.   Será que  reconhecer que "Somos todos macacos" combate o racismo ou o apenas tenta levar ao silenciamento do negro diante da ofensa?

E  o que a biologia tem a ver com racismo?

As  ideias racistas serviram de argumento contra a Teoria  da Evolução no seu início e, posteriormente,o conceito de evolução sofreu releituras racistas, sendo usadas como ideologia de dominação pelo imperialismo europeu.  Esse uso racista do discurso biológico se baseia em equívocos:  as idéias de evolução com melhora, de que um organismo é mais evoluído que outro e a suposta existência de raças humanas.   Para entender esses equívocos, vamos revisar darwinismo, neodarwinismo e um pouco de cladística.

Capa da Veja:O preconceito quebrou a cara para sempre?



A ancestralidade humana

Um dos impactos da teoria de Darwin foi a implicação de que o homem, diferente do que se pensava na época, não seria um ser especial criado por Deus, mas meramente um animal que compartilha o mesmo ancestral com outros primatas.  Darwin sofreu resistência e foi ironizado em charges que o tratavam como macaco.

Charles Darwin defendeu que os organismos estão em constante luta pela sobrevivência na qual sobrevive o mais apto. Essa é a seleção natural.

Mas ele tinha um problema. A seleção é um processo que reduz a biodiversidade, então como explicar a diversidade de seres vivos? A reprodução sexuada  seria a resposta. Entretanto, na época de  Darwin, acreditava-se que a herança era por mistura. Os filhos resultariam de uma mistura das características dos pais. Assim, conforme essa ideia, a reprodução sexuada levaria  a homogenização, e não a diversidade.

Um crítico de Darwin  propôs uma história em que se um branco chegasse a  uma  ilha de negros, ele se tornaria rei, teria mulheres e filhos. Mas seus filhos não seriam mais brancos, assim como seus netos. Depois de várias gerações o traço branco desapareceria. Essa história racista demonstra o pensamento da época sobre herança por mistura.

O que faltou ao entendimento de Darwin foi as conclusões de um contemporâneo seu : Gregor Mendel. O monge através de cruzamentos de ervilhas demonstrou que a herança não ocorre por mistura,não existem perdas de características, mas recombinação de genes na reprodução sexuada.  Chamamos de neodarwinismo a síntese das idéias darwinistas e mendelianas.

(Hoje se sabe que a cor da pele é resultado do somatório da expressão de vários genes, o que é um exemplo de genética quantitativa).


A idéia incorreta de herança por mistura  e perda de características foi ainda utilizada tempos depois no nazismo, que defendia a manutenção da raça pura ariana. Veja, abaixo, figura representando este erro racista:





Acima, um experimento mendeliano. Cruzamento de ervilhas lisas (ou esféricas, "spherical") e rugosas ("dented") produz ervilhas lisas híbridas. A autofecundação desses hibridos produz ervilhas lisas e rugosas. Ou seja, a reprodução sexuada não levou a perda da característica rugosa, mas sim a recombinação dos alelos envolvidos.


Sobre a evolução humana, Darwin afirma, em seu livro The Descent of Man,  que  "O homem ainda traz em sua estrutura física a marca indelével de sua origem primitiva."  Assim como o orangotango, gorilas e chipanzés,  o homem apresenta um polegar opositor. O aumento do cérebro e bipedalismo foram tendências evolutivas do nosso grupo, assim como desenvolvimento da linguagem e da cultura.

 Polegar opositor: uma característica ancestral

Mãos de um chipanzé e de um humano



Evolução humana e racismo

A medida que as idéias darwinistas foram sendo aceitas academicamente, elas ganharam releituras racistas que trataram o negro como inferior ao branco," menos" evoluídos. Defendia-se, na época, que a raça negra era intermediária entre os primatas ancestrais e os brancos, que seriam "mais evoluídos". Assim, essa ideia incorreta de evolução serviu como ideologia de dominação em época de imperialismo e disputa dos territórios africanos.  Chamamos isso de darwinismo social.

Daniel Garrison Brinton, em 1890, escreveu  que a "raça européia ou branca encabeça a lista [da evolução]; na outra extremidade encontram-se os africanos ou negros" . Louis Bolk, em 1926, afirmou que "Se o retardamento continuar no negro, o que é ainda um estágio transitório pode, nessa raça, tornar-se um estágio final. É possível a todas as raças  alcançar o zênite do desenvolvimento que a raça branca agora ocupa."


Abaixo, uma ilustração racista da evolução retirada do livro Anthropogenie (1874) , de Haeckel:





Fraudes científicas foram usadas para fundamentar essa visão evolutiva racista, como mostrado abaixo:



Somos macacos? sim e não

O termo macaco se refere ao gênero Macaca. Como pertencemos ao gênero Homo, não somos macacos. Partilhamos ancestrais comuns com esse gênero pois pertencemos à ordem Primata.

Entretanto chipanzé e gorila também não pertencem ao gênero Macaca e são considerados vulgarmente macacos.   Assim, o termo amplo "macaco" acaba por ser referir à ordem Primata excluindo dela, arbitrariamente,o Homo sapiens.

Em biologia, especialmente em sistemática filogenética ( ou seja, a sistemática que usa o parentesco evolutivo como critério de agrupamento), um grupo deve ser monofilético. Isso quer dizer que ele deve incluir um ancestral comum e exclusivo e todos os seus decendentes. Dessa forma, aos olhos dessa sistemática, não faz sentido falar em um grupo "macacos" que inclui o gênero Macaca, os gorilas e chipanzes, sem incluir o Homo sapiens. Todos compartilham um ancestral comum e exclusivo e, por isso, se o chipanzé é um macaco, por essa perspectiva o homem também o é.

Levando em conta a ambiguidade do termo, o mais exato é dizer que somos primatas, e que os macacos compartilham conosco um ancestral comum.

Abaixo, a árvore evolutiva da ordem Primata. Observe, nas setas, os gêneros Macaca e Homo, todos descendentes do primeiro primata.



Além de ser um erro ético e um  crime de racismo, a ofensa "macaco"  carrega dois equívocos biológicos: 1) trata o negro como um intermediário da evolução humana e 2) pressupõe que macacos sejam menos evoluídos  que o homem.  Vimos que o primeiro erro foi a ideologia de dominação utilizada pelo imperialismo europeu.  E o segundo erro, como já discuti  AQUI: não faz sentido dizer que um animal é mais evoluído que outro, já que cada um está  adaptado ao seu ambiente . Por exemplo, o homem não é mais evoluído que peixes.  Jogue o homem nu no oceano e verá quem vencerá a luta pela sobrevivência.  Entretanto, isso não diminui a ofensa "macaco", pois as palavras devem ser entendidas no seu contexto,no caso, de depreciação e, por isso, tipifica crime.


Para a biologia não existem raças humanas

Raça, no sentido biológico, é subespécie. O processo de raciação é uma etapa da especiação. Não existem, no sentido biológico, raças humanas pois não há diferenças genéticas suficientes que agrupem brancos e negros em subespécies diferentes de Homo sapiens. O geneticista da UFMG Sérgio Pena e seus colaboradores  encontrou mais semelhanças entre certos negros e brancos, do que  entre brancos e outros brancos. Ele defende, por isso, o fim do uso do termo raça para humanos. Assim, um termo melhor seria o uso de etnia.

Entretanto, o termo raça prossegue sendo usado por movimentos sociais, não como unidade biológica, mas como um grupo com características sociais e históricas semelhantes. 


Biologia e racismo

O discurso pseudobiológico foi e é utilizado como ideologia de dominação. Devemos nos posicionar contra erros conceituais que justifiquem o racismo. A miscigenação NÃO leva a perda de características (o nazismo se baseou em erro biológico).  Os indivíduos negros NÃO são intermediários da evolução humana, não são menos evoluídos ( o imperialismo se beneficiou desta ideia errada) . Inclusive, não se pode dizer, biologicamente, que existam raças humanas. E ainda: nem faz sentido comparar indivíduos em relação a sua evolução e dizer que um é "mais evoluído" que outro.

O parágrafo anterior fala obviedades. Mas, temos que refletir: como hoje o discurso biológico está sendo utilizado para favorecer brancos?

A idéia de não haver raças humanas biológicas tem sido comumente utilizada como argumento contra políticas afirmativas como as cotas.  Essa crítica supõe uma igualdade de condições mas ignora as diferenças de oportunidades dos indivíduos brancos e negros.


Acima, um exemplo do discurso biológico sendo utilizado contra políticas afirmativas



A miscigenação NÃO produz  uma democracia racial. O fato de não existir raças humanas biológicas não pode esconder a história de exclusão social e não dissipa a necessidade de políticas afirmativas.




A quem favorece dizer que somos todos macacos?


Apesar de  não existir raças humanas biológicas o racismo existe. Como vimos, uma das características do Homo sapiens é a cultura. E é inegavel que exista uma cultura negra, e, com isso, uma identidade negra, que justifica, em um sentido das ciências sociais, o uso do termo raça negra:




Assim, o racismo não tem a ver com o conflito entre unidades biológicas ("raças biológicas")  e sim entre  identidades culturais (também chamadas de raças ou etnias,em sentido antropológico) , tem a ver com a opressão da cultura negra e o favorecimento da cultura branca.  Ignorar as diferenças (culturais, de oportunidade, etc) entre negros e brancos só favorece essa opressão:



Na foto :"Só brancos nascem?" . Biologicamente, raças humanas não existem. Mas negar que existam raças humanas resolve o problema do racismo?






http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/05/1455758-umbanda-e-candomble-nao-sao-religioes-diz-juiz-federal.shtml

Demonizadas pelas igrejas neopentecostais,  o preconceito contra as religiões afro-brasileiras se institucionalizou.


O racismo existe e quem não o vê e o nega são os favorecidos por ele. Para esses não há nada de estranho revistas com capas apenas com brancos, mas é  reprovável que uma negra seja eleita como a mulher mais bonita do mundo. E os cultos afro-brasileiros lhe parecem ser "demoníacos", "primitivos", nada  relacionados com a religião "organizada" branca.  Provavelmente para esses, não há nada de chocante e ofensivo ser chamado de macaco, porque eles nunca foram chamados de macacos com uma conotação depreciativa.

A explicação biológica não diminui a ofensa. O termo "macaco" é um  historicamente racista. Mesmo  que para biologia macacos não sejam "menos evoluídos" que o homem. Mesmo que o termo  seja usado vulgarmente para representar nossos parentes atuais, nossos ancestrais e por consequência o Homo sapiens. O ofendido não pode ser constrangido a se calar. E nesse contexto dizer "Não!Eu NÃO sou um macaco!" é um ato de resistência. E, por isso, aquele que sofre a ofensa deve ter meios legais de se proteger e combater o racismo. 

Como disse o ativista  Marcus Guellwaar : "A campanha racista com aquela frase racista veio para dizer: NÃO É CRIME CHAMAR NEGROS DE MACACOS."



Conclusão

O racismo já foi usado pra contestar o conceito de evolução, através da incorreta idéia de que a herança ocorre mistura e, por isso a reprodução sexuada não produziria diversidade.
Posteriormente o discurso biológico (na verdade, pseudobiologico) foi incorporado pela cultura racista, ao tratar o negro como um intermediário da evolução humana, "menos evoluído" que o branco. 
Atualmente, a ideia de ausência de raças humanas ( no sentido biológico) e a falsa idéia de igualdade são utilizadas como argumentos contra políticas de ação afirmativa, numa defesa da meritocracia que não leva em conta as desigualdades de oportunidades entre brancos e negros.  

Retomo a pergunta do início do texto: Não seria a campanha "somos todos macacos"  novamente a utilização equivocada do discurso biológico, camuflando e conservando a desigualdade social, silenciando a indignação negra diante de uma ofensa de natureza racista?

        "Onde houver a reação do oprimido, vai ter o opressor querendo se apropriar."(C.M.)




Onde nós guardamos o nosso racismo?




SAIBA MAIS
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Curso Genética e Evolução

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Evolução biológica não é necessariamente melhora nem aumento de complexidade

por Fabio Dias Magalhães





Evolução biológica é "descendencia com modificação" ou seja, a capacidade dos seres vivos de se modificar ao longo das gerações.  E isso ocorre devido a ação de mecanismos evolutivos, como a mutação, a recombinação genética, a seleção natural, cruzamento consanguíneo, catástrofes e outros.
Evolução biológica não tem um sentido de melhora, mas de modificação das populações ao longo das gerações . Essas modificações podem permitir melhor adaptação e por isso serem favorecidas pela seleção natural. Ou  podem ser neutras ou, ainda, desfavorecer a adaptação. Por exemplo, cruzamentos consanguíneos  aumentam a homozigose e a expressão de doenças recessivas e são exemplos de alteração evolutiva.  Ou uma catástrofe, que reduz a biodiversidade, podem ser mecanismo evolutivo ( deriva genética). Ou seja, nem sempre evolução significa melhor adaptação.

E ainda não podemos dizer que uma espécie é mais evoluída que outra. Cada espécie atual está apta para o ambiente em que se encontra.O homem não é mais evoluído que peixes.  Jogue o homem nu no oceano e verá quem vencerá a luta pela sobrevivência. Da mesma forma, o homem não é mais evoluído que outros primatas.

Evolução não é, necessariamente, aumento da complexidade. Muitas vezes  na evolução ocorrem perdas de características. Não temos branquias funcionais apesar de evoluirmos de peixes, cobras não tem patas apesar de descenderem de tetrápodas, o cipó-chumbo é uma planta que perdeu a capacidade fotossintética. Essas perdas não são chamadas "involuções", são exemplo também de evolução. Veja abaixo:

A serpente, apesar de ápode, é um Tetrapoda por descender de tetrápodas.



O cipó-chumbo (a planta amarela enroscada em outra na foto) é uma planta, apesar de não fazer fotossíntese.



A idéia de evolução como aumento da complexidade é lamarkista. É como uma escada ou algo linear. E é representada abaixo:




Já a ideia darwinista  indica não uma sequencia linear de melhora, mas sim divergências a partir de um ancestral. A evolução é representada, assim, como uma árvore:



Em uma interpretação lamarckista, o ser humano seria mais evoluído que seus ancestrais. Mas isso NÃO é um intepretação correta da evolução biológica.




Entretanto, segundo Darwin, a  evolução não é como uma escada, mas como uma árvore, em que as espécies compartilham ancestrais mas também demonstram divergências. A  evolução (ou filogenia) dos primatas seria corretamente representada na figura abaixo:


UPDATE: Este tema do blog foi abordado no ultimo ENEM (2014) na questão a seguir:

RESPOSTA: Conforme vimos no texto acima, evolução é descendencia com modificação. Apenas a letra A é correta. Perceba que a resposta deve se contrapor a ideia incorreta de que o "homem é o ápice do processo evolutivo".


Para saber mais
Somos todos macacos?


segunda-feira, 5 de maio de 2014

Bases bioquímicas da hereditariedade

por Fabio Dias Magalhães




Bem...mais um texto longo. A nossa pergunta é: Qual é a base química da genética?

Considere um casal de indivíduos não albinos que tiveram um filho albino. Esse é um tipo de assunto comum em aulas de genética. A partir da história concluimos que os pais eram hererozigotos (Aa) e o filho homozigoto recessivo (aa):


Vários conceitos estão envolvidos com o heredograma:

1)"A" e "a" são alelos de um gene, ou seja, variantes de um gene. O alelo "A" está relacionado com a produção de melanina, já "a" não produz esse pigmento. Isso mostra que o gene interfere nas características de um indivíduo.

2) Cada um dos pais transmitem  um dos seus alelos ("a" e "a") ao filho ("aa") na fecundação. Isso mostra que uma característica é condicionada por par de alelos que se separa na produção de gametas. E que o gene tem capacidade de replicação, já que a partir de uma célula (zigoto) se desenvolveu o filho, e o genótipo "aa" se replicou para todas as suas células.


Em resumo: um gene interfere nas características de uma célula e ele tem capacidade de replicação e, por isso, é transmitido para células filhas.


Nosso objetivo aqui é entender que um gene é um trecho de DNA que expressa um peptídeo ou proteína. Esse DNA replica e isso permite que as informações para síntese de proteínas sejam transferidas para as células filhas. Durante a replicação, o DNA pode sofrer mutações e por causa disso existem variantes de um gene (alelos) que produzem proteinas diversas cada um, com ou sem atividade biológica.

3 características de um gene: Uma característica (melanina) resulta de um par de alelos (1), que podem ser transferidos para células filhas (2) e esse par de alelos se separa na produção de gametas (3).




Questão: O DNA é a molécula da hereditariedade por apresentar duas propriedades.  Cite-as, explicando sua importância.



Resposta:  Transcrição e replicação. A transcrição é uma etapa da síntese proteica e, a partir dela, o DNA comanda o metabolismo celular através de enzimas e outras proteinas. A replicação permite que as informações para a síntese proteica sejam transmitidas para as células filhas, sendo por isso uma etapa anterior à divisão celular.
Acima, o DNA transcreve (o que permite a síntese de proteínas) e replica ( o que permite a divisão celular)


DNA, RNA e Proteínas

O DNA e o RNA são ácidos nucléicos e, por isso, polímeros formados de  nucleotídeos.  O DNA é feito de desoxirribonucleotideos (com desoxirribose e bases nitrogenadas A, G,C e T) e o RNA é um polimero de ribonucleotídeos (com ribose e bases nitrogenadas A,G,C e U). São moléculas bem diferentes das proteínas, que são polímeros formados de aminoácidos unidos por ligações peptídicas.
Ácidos nucleicos são compostos de nucleotídeos. Na figura acima, observe os dois tipos de pentose (ribose e desoxirribose) e as bases nitrogenadas pirimidinas e purinas. Qual pentose e base nitrogenada é exclusiva do DNA?


A partir do DNA são transcritos vários tipos de RNA: O RNA que leva a mensagem do DNA (RNA mensageiro), o RNA que transporta aminoácidos  (RNA transportador) e o RNA que compõe com proteínas os ribossomos (RNA ribossômico). Entretanto, quando falarmos aqui de transcrição estaremos nos referindo à produção do RNAm. 




Proteínas são compostas de aminoácidos. Abaixo, um aminoácido, componente das proteínas. Observe os grupos amina, carboxila e a cadeia lateral (grupo radical).


Na síntese proteica, aminoácidos se ligam, processo que libera uma molécula de água para cada ligação peptídica:

Resumo da  síntese protéica

A síntese protéica tem duas etapas: transcrição e tradução

Na transcrição, um molde de DNA produz um RNA  mensageiro (RNAm).

Na tradução, esse RNAm, ligado a ribossomo, será molde para a produção de proteína.

O ribossomo se desloca sobre o RNAm e o RNA transportador  (RNAt) reconhece as trincas de nucleotídeos do RNAm, transportando o aminoácido correto. A medida que outros RNAt vão trazendo aminoácidos, vão ocorrendo ligações peptídicas, levando a produção da proteína. Cada trinca de nucleotídeos do RNAm (codon) se parea com a trinca do RNAt (anticodon). Assim, existe uma relação de 3 nucleotídeos no ácido nucléico para 1 aminoácido na proteína. Entretanto,  existem codons  não relacionados a aminoácidos e são eles que determinam o fim da síntese proteica; são chamados de codons de parada.

As duas etapas da síntese proteica:



Um gene, uma proteína. Acima, um gene é um trecho de DNA que expressa um peptídeo.O RNAm transcrito  a partir do DNA se liga ao ribossomo, permitindo que ocorra a tradução, na qual as proteínas serão montadas.   Perceba, na figura acima, o códon, trecho do RNAm relacionado, geralmente,  a um aminoácido na proteína.




3 para 1. Acima, figura mostra a relação de 3 nucleotídeos do RNAm para um aminoácido na proteina. Essa  trinca de nucleotídeos é o codon. O ribossomo  permite a ligação dos RNA transportadores, ligados ao aminoácidos. O RNAt  reconhece o codon  através do anticodon, trinca complementar ao codon que ocorre no RNAt. A medida que o ribossomo vai se deslocando pelo RNAm  a proteina vai sendo montada.




Questão: O fumo está relacionado ao aumento de risco para o câncer de pulmão. O hábito de fumar expõe os fumantes asubstâncias com atividade carcinogênica. O Benzopireno, um dos principais agentes carcinogênicos presentes na fumaça docigarro, tem a capacidade de promover mutações no DNA levando a mudança da base Guanina para Timina. Suponha que umtrecho da fita molde de DNA do gene X, representado a seguir, possa ser alterado em presença do Benzo[a]pireno, em um dosdois sítios indicados na figura

1.Considere que o RNA mensageiro seja formado a partir das trincas mostradas no esquema da figura 1 a seguir.Indique as alterações que ocorrerão na síntese da proteína X quando a mutação for localizada nos diferentes sítios, justificando cada resposta com a utilização do código genético da figura 2.
 2.Qual seria o efeito da deleção da primeira adenina indicada no trecho de DNA da figura 1?


Resposta: 
Lembrando os sítios de mutação e o código genético...

1) Quando a mutação for localizada:
a) no sítio 1  A seqüência do DNA será modificada pelo benzopireno de ATG para ATT levando, na transcrição, a formação de um RNAm com a seqüência UAA ao invés de UAC. UAA é um códon de terminação, portanto, a mutação provocará a produção de uma proteína menor. 

b) no sítio 2 A seqüência do DNA de CCG será modificada para CCT levando na transcrição, a formação de um RNAm com a seqüência GGA ao invés de GGC. Nessa situação, a modificação de GGC para GGA não provocará alteração na proteína; os dois códons na tradução produzem uma proteína com o aminoácido glicina, nesta posição

2)A deleção da adenina alterará a matriz de leitura, levando a alteração da proteína. (explicarei isso  a frente).


A tabela acima, na questão,  ilustra o Código genético, que é a relação de trincas de nucleotídeos do ácido nucléico  com os aminoácidos de uma proteína. Ele é universal, por é obedecido pelas sinteses proteicas de todos seres vivos. Isso evidencia a ancestralidade comum de todos os seres vivos e permite, ainda, a produção de organismos transgênicos. O código genético é também degenerado, ou seja, existem mais de um codon para o mesmo aminoácido, o que nos protege do efeito de mutações como a que ocorreu no sítio 2.


O efeito das mutações

Mutação gênica é uma alteração aleatória do DNA. Ela resulta de um erro durante a duplicação por causa de uma substituição, deleção ou inserçao de nucleotídeos. A mutação pode levar a produção ou não de proteínas alteradas. 

Vamos estudar os impactos da mutação a seguir:

Leia acompanhando o quadro abaixo. As mutações estão em vermelho, o DNA e proteinas normais estão, respectivamente, em azul claro e verde. A sequencia normal do DNA produz a sequência de aminoácitos Thr-Met-Gln-Arg-gln. A troca de nucleotídeos pode ou não alterar a sequência de aminoácidos. A alteraçao de ACA para ACG não mudou a proteína. Já ACA para ATA levou a substituição do aminoácido Thr para lleu.  No outro exemplo, a alteração de CAA para TAA produziu uma trinca de parada interrompendo a síntese.  A deleção ou substituição de base altera a matriz de leitura, ou seja, enquanto antes as trincas eram ACA ATG CAA CGA CAA, a inserção de G levou a produção de trincas ACA GAT GTA ACG ACA, mudando totalmente a proteína.



Abaixo a figura mostra como inserções e deleções alteram a matriz de leitura. O DNA normal está no meio, acima ele sofreu inserção ( em bege) e abaixo deleção.


Note que é a partir das mutações que os  alelos  (variantes de genes) são produzidos. Levando em conta que a  mutação pode produzir proteínas disfuncionais, vamos chamar de "A" o trecho de DNA não alterado e de "a"  aquele trecho que sofreu mutação e por isso não produz uma  enzima ativa. Os individuos "AA" e "Aa" produzirão a enzima, enquanto "aa" não produzirá. Essa é a base molecular para os famosos conceitos  de dominante e recessivo.


Replicação e Divisão Celular

A replicação é um processo que ocorre antes da divisão celular e é fundamental para transmissão das informações para síntese proteica para as novas células.

Costuma-se dizer que a duplicação do DNA ocorre no sentido  5' para 3':



Para entender isso, observe o desoxirribonucleotídeo abaixo. Perceba que os carbonos da pentose são numerados de 1' a 5'. Observe onde estão os carbonos 3' e 5' e os ligantes desses carbonos. Existe uma hidroxila ligado ao carbono 3' e tres fosfatos no C 5':
Durante a duplicação, o grupo fosfato do carbono 5' ataca o grupo hidroxila do carbono 3' da fita de DNA nascente. Assim vai ocorrendo a polimerização do DNA, catalisada pela DNA polimerase:
 Na figura, observe o novo nucleotideo se ligando ao DNA. O grupo fostato desse novo nucleotideo reage com a hidroxila do nucleotideo que ja está no DNA, formando uma ligação chamada de ligação fosfodiester. Perceba que a nova fita cresce no sentido 5' a 3'.



A duplicação do DNA ocorre na intérfase e forma cromátides irmãs (que parecem um "X" ou um "H"). Posteriormente, no início da divisão celular, o DNA se condensa, reduzindo seu volume. Isso é fundamental para favorecer os deslocamentos que o material genético vai sofrer na divisão:



Existem dois tipos de divisão celular nos eucariotos: a mitose ( que conserva o número de cromossomos e serve para o crescimento dos animais) e a meiose ( que reduz o número de cromossomos e permite a produção de gametas animais). 

Observe, abaixo, a formação e a separação das cromátides-irmãs:



 Perceba, acima,  que na meiose 1 ocorre a separação dos cromossomos homólogos. Os genes alelos estão em cromossomos homólogos e é a separação desses que leva à segregação dos alelos.


Conclusões

Retornemos ao genótipo "Aa", que ocorre em indivíduos que produzem melanina:



1) Os alelos  "A" e "a" resultam de mutações, em ancestrais distantes. "A" produz enzima ativa mas "a" não.

2)A combinação "Aa", por causa da presença de "A" acaba por levar a produção  de  enzima funcional e, com isso, produção de melanina. "A" é chamado assim de dominante porque sua expressão ocorre tanto como "AA" ou "Aa".

 3)Esses alelos são DNA e por isso podem se duplicar e serem transferidos para as células na mitose.

 4)E como estão em cromossomos homólogos, eles se separam na meiose 1, e por isso os gametas são apenas "a" ou "A".



Ah, vida! Sobre o Projeto Genoma Humano







Saiba mais

1. Sintese proteica em eucariotos é diferente daquela que ocorre em procariotos. Isso porque As células eucariotas são compartimentadas, clique AQUI para saber mais.  A síntese proteica eucariota também é diferente porque o RNAm deve ser processado. Clique AQUI para saber sobre o SPLICING, o processamento do RNAm (EM BREVE!)

2.O câncer é causado por acúmulo de mutações. Clique AQUI para saber mais.

3. Se tiver paciencia e um caderno para ir fazendo anotações, veja essa aula de Genética e Evolução, com a maior parte do conteúdo dessas matérias em prezi e com questões.(EM BREVE)

4.A genética viral tem características próprias. Veja essa aula e faça as questões propostas.

5.Conheça os experimentos que permitiram a conclusão que o DNA é o material genético dos seres celulares (EM BREVE)

















O que você quer ver no blog da Sala BioQuímica?